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Marcelo Tesserolli: Toda liberdade tem um preço

Nos últimos meses, (talvez de forma equivocada) acabei me distanciando um pouco das redes sociais por questões pessoais e profissionais. Entretanto, também pelo WhatsApp e em algumas das poucas ocasiões em que me conectei ao Instagram e ao Facebook para responder mensagens e, sobretudo manter meu networking vivo, me deparei com muitas mensagens e posts de conhecidos e desconhecidos que me chamaram a atenção, ainda no período de distanciamento social. Selfies individuais ou em família em algumas das praias mais famosas do Rio de Janeiro, com a vista do mar ao fundo e legendas como: “melhor praia de todos os tempos” ou “isso sim é praia, silenciosa e sem bagunça, areia e água sem lixo: um paraíso!”, dentre outras.

Resignado e às vezes até indignado, eu me perguntava como estas pessoas poderiam apreciar tanto aqueles momentos, ao ponto de postar fotos para todo mundo nas “praias paradisíacas” quando, na verdade aquilo tudo era fruto de uma situação de calamidade/catástrofe mundial. Achava uma enorme falta de sensibilidade e um desrespeito com todos que, privando-se de sair de casa estavam fazendo grandes esforços, principalmente psicológico para respeitar as normas restritivas impostas para combater a pandemia. Além daqueles que, impedidos de ir à praia, estavam passando dificuldades financeiras, pois aquele era o seu ambiente de trabalho, onde ganhavam diariamente o único meio de sustento de toda a família.

Lembrei também das notícias veiculadas na mídia geral, que mostravam ambientes naturais recuperando as suas condições ambientais originais e sendo “invadidos novamente” pelos seus habitantes originais. Como a água cristalina na praia de Botafogo, graças à eventual diminuição do trânsito de embarcações na Baía de Guanabara, ou simples movimento das marés, como defendem alguns pesquisadores. Outro “causo” não-confirmado, mas que chamou a atenção foi o de uma suposta onça-parda rondando a encosta de um dos morros da Cidade: tratava-se de um grande gato amarelo! Polêmicas à parte, é inegável que ao longo do processo de desenvolvimento urbano, o ser humano tem afetado bastante o espaço – positiva e negativamente e, em sua ausência a natureza rapidamente se regenera.

Mais recentemente, após a liberação parcial de acesso à orla (praia) voltei a realizar uma das minhas atividades preferidas que é caminhar (ainda de máscara) com minha esposa Ana pela areia, margeando a água e sentindo as ondas nas canelas. Comecei a refletir sobre as postagens que tinha visto anteriormente nas redes sociais, e constatei que a falta de gente deixara a areia mais branca, limpa e sem lixo, com espaço para pássaros se aglomerarem em verdadeiras convenções (apiárias). Sem banhistas, a água do mar ficou mais limpa e agradável. A inexistência do assédio de comerciantes e ambulantes, caixas de som com música (de qualidade duvidosa) em alto volume, jogadores de frescobol e “altinho” deixara o ambiente mais respeitoso, silencioso e tranquilo. Ah, que paraíso! pensei, automaticamente questionando minhas próprias emoções passadas.

Seria realmente necessário atravessar uma pandemia mundial para que pudéssemos novamente usufruir da praia de forma civilizada e humanizada? Milhões de pessoas precisam perder suas vidas para entendermos a importância da educação, do respeito para com o próximo e, fundamentalmente, da preservação da natureza?

Está mais do que na hora de pensar nossos relacionamentos e reaprender a conviver de forma harmônica com o meio ambiente e seus habitantes. Daqui para frente, precisaremos ser cada vez mais conscientes, responsáveis por nossas ações e pelos impactos que causamos àqueles que nos rodeiam, assim como ao espaço físico que habitamos. Perdida no universo virtual da livre comunicação em massa, a máxima “nossa liberdade acaba quando começa a do outro” é cada vez mais atual e necessária para o equilíbrio das nossas relações.

Sempre realista, mas bastante otimista, acredito, que assim como os banhistas retornarão às suas praias, nos destinos turísticos nacionais e estrangeiros, turistas e residentes possam voltar a visitar e receber de forma cada vez mais humanizada, atenciosa e ambientalmente responsável. E, preservando o bem que nos é mais valioso: a liberdade de ir e vir, vamos viajar!

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