Aulas exploram, sob olhar psicanalítico, como produções artísticas atravessam questões culturais, políticas e identitárias nas múltiplas vertentes do feminismo
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Já estão abertas as inscrições para o curso online Psicanálise, arte e feminismo, oferecido pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) durante os meses de setembro e outubro. Em oito encontros, Flavia Corpas, Francielle Alves e Isabela Pinheiro investigam obras de arte e testemunhos de artistas mulheres que desafiam e subvertem discursos tradicionais, forjando novos caminhos de existência.
Serão abordadas as formas pelas quais essas produções desafiam estereótipos e modelos normativos, em oito encontros que percorrerão temas dentro do feminismo em suas diversas vertentes como feminismo negro, decolonial, queer, entre outros, e analisarão questões políticas, culturais e identitárias que atravessam as práticas artísticas, a partir de uma leitura psicanalítica.
As inscrições já podem ser feitas pelo site mam.org.br/cursos e, ao final de cada curso, os participantes recebem certificado. Membros do programa Amigo MAM têm 20% de desconto e estudantes, professores e aposentados têm 10% de desconto.
Serviço:
PSICANÁLISE, ARTE E FEMINISMO, com Flavia Corpas, Francielle Alves e Isabela Pinheiro
Datas: 09, 16, 23 e 30 de setembro e 7, 14, 21 e 28 de outubro de 2025
Terças-feiras
Horário: das 19h às 21h
Duração: 8 encontros
Público: interessados em geral
Investimento: R$ 640,00
Curso online
Ao vivo, via plataforma de videoconferência
Aulas gravadas disponibilizadas apenas por tempo determinado
Curso contempla certificado no final
Conteúdo programático:
Aula 1 – Introdução: Na aula introdutória, apresentaremos o curso, suas bases teóricas e metodologia, com foco na discussão da relação entre psicanálise, arte e feminismo. Abordaremos como esses três saberes se interseccionam, suas aproximações e tensões, e como, a partir destas, é possível desafiar e repensar narrativas convencionais sobre a subjetividade, a identidade, o corpo, a proporcionar a construção de novas lógicas. Faremos uma introdução ao feminismo, preparando o terreno para a compreensão deste no diálogo entre a psicanálise e a arte.
Tópicos a serem abordados:
● Apresentação do curso e sua metodologia;
● Qual a relação entre a Psicanálise e a Arte? Por que o Feminismo?
Aula 2 – Repensando as Narrativas Oficiais: Nesta aula, analisaremos como as narrativas oficiais da história da arte frequentemente marginalizaram ou invisibilizaram as contribuições de artistas mulheres. Refletiremos sobre como a perspectiva feminista propõe uma crítica radical a esses saberes hegemônicos, introduzindo a ideia de uma visão situada, que valoriza as experiências e contextos de cada sujeito. Ao questionar as representações tradicionais, buscaremos ampliar nossa ótica sobre a diversidade de experiências e práticas artísticas, a partir do resgate da vida e obra de algumas artistas, e da análise da exposição “Contribuição da Mulher às Artes Plásticas no País” no MAM-SP (1960), a primeira exposição coletiva composta exclusivamente por mulheres a ocorrer no Brasil, em conjunto com aquilo que em psicanálise compreende-se como singularidade.
Tópicos a serem abordados:
● As mulheres e as artistas na História da Arte;
● Estudo do livro A História da Arte sem Homens da historiadora da arte Katy Hessel;
● Saberes Localizados: A questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial de Donna Haraway;
● Exposição “Contribuição da Mulher às Artes Plásticas no País” no MAM-SP (1960).
Aula 3 – Freud, Lacan e as Artistas: Nesta aula, exploraremos a complexa relação entre psicanálise e arte através de duas exposições recentes: “Lacan, a exposição”. Quando a arte encontra a psicanálise” (Centro Pompidou-Metz, 2024) e “Mulheres & Freud: Pacientes, Pioneiras e Artistas” (Freud Museum, Londres, 2024-2025). Analisaremos as contribuições e o legado de mulheres que desempenharam papéis fundamentais na criação e desenvolvimento da psicanálise, refletindo sobre suas influências e impactos. A análise incluirá artistas que dialogam com essas exposições, como Paula Rego e Louise Bourgeois, cujas produções exploram conceitos psicanalíticos para investigar subjetividade e desejo. Também discutiremos a intervenção performática de Deborah de Robertis em “A Origem do Mundo”, de Courbet.
Tópicos a serem abordados:
● Exposição “Lacan, a Exposição” no Centro Pompidou – Mets (2024);
● Exposição “Mulheres & Freud: Pacientes, Pioneiras e Artistas”, no Freud Museum em Londres (2024-2025);
● Mulheres Pioneiras na Psicanálise.
Aula 4 – Musas Insubmissas: Nesta aula, questionaremos o papel tradicional de “musa” no Surrealismo, movimento artístico que ocupa um lugar nodal na relação entre a psicanálise e arte. Exploraremos como artistas mulheres associadas a esse movimento desafiaram e subverteram esse estereótipo, reivindicando o lugar de artistas e contrariando a noção tradicional de feminino sustentada pelos surrealistas homens. Discutiremos o livro “Lá Embaixo”, obra testemunhal de Leonora Carrington, explorando como suas narrativas místicas e oníricas apresentam uma dimensão singular de resistência, sobrevivência e reinvenção.
Tópicos a serem abordados:
● A musa e a artista: O caso do Surrealismo;
● Estudo da obra Lá Embaixo, examinando as narrativas místicas e oníricas de Leonora Carrington como instrumentos de resistência e reinvenção do feminino no movimento Surrealista.
Aula 5 – Corpo-Território, Crítica Decolonial e Povos Originários: Nessa aula, abordaremos o conceito político de Corpo-território, desenvolvido por Maria Mies, Veronika Bennholdt-Thomsen e Claudia von Werlhof (1988), que evidencia como a exploração dos territórios comuns, comunitários, e a violência aos corpos individuais e coletivos estão relacionados. Essa analogia e indissociabilidade entre corpo e território, e seus efeitos subjetivos é o mote que guiará nossas reflexões. Trabalharemos com artistas que fazem uso do corpo como campo de luta, resistências contra as imposições patriarcais, coloniais e neoliberais, e como o corpo-território possibilita o desacato, a confrontação e a invenção de outros modos de vida.
Tópicos a serem abordados:
● Colonização e as construções de identidade;
● “Objeto Semente” e Política dos Comuns, Estudo da Obra: “Linha” de Eleonora Fabião;
● Artistas Latino Americanas: Estudo do projeto Banana Republic, a obra de Victoria Cabezas, e suas críticas à exotificação e à colonialidade; Territorio Mexicano de Lorena Wolffer; Silhuetas – Ana Mendieta, Marcela Cantuária;
● Artistas Daiara Tukano e trabalho curatorial Sandra Benites;
● A obra de Suzanne Césaire.
Aula 6 – Olhares Negros: raça, classe, gênero e representação: Nesta aula, iremos discutir o surgimento do ativismo negro e de conceitos como negritude e interseccionalidade. Abordaremos como estes conceitos descentram o olhar e as interpretações do que se pensava como arte, provocando transformações em nossa subjetividade. Nessa chave, nota-se, nas obras retratadas, uma busca de recriar e reinventar um mundo possível, numa perspectiva estética, ética e política. Temos como inspiração de base o livro “Olhares Negros raça e representação” de Bell Hooks em interlocução com produções de teóricas e artistas brasileiras como Lélia Gonzales, Rosana Paulino e movimentos da América Latina e Central, como a criolagem e o afrosurrealismo.
Tópicos a serem abordados:
● Afro Surrealismo, Afro futurismo na literatura e artes visuais;
● De Sarah Bartmann à Josephine Baker e Rosana Paulino;
● Laura – Manet (Still Thinking about Olympia’s maid);
● Criolagem;
● Amefricanidade.
Aula 7 – Feminismo Queer e Artistas Feministas: Nesta aula, exploraremos o feminismo queer no campo das artes, um debate que tem ganhado força desde os anos 60, artistas e coletivos têm utilizado a perspectiva queer não apenas como uma crítica às normas de gênero, mas também como um dispositivo para questionar as fronteiras da própria prática artística. Longe de buscar uma definição fixa para “arte feminista”, examinaremos como o feminismo queer opera como uma estratégia de deslocamento, reconfigurando materialidades, discursos e imaginários. Por meio de obras selecionadas de artistas e coletivos que trabalham a partir dessa perspectiva, veremos de que maneiras essas práticas tensionam noções estabelecidas, questionando categorias tradicionais como feminino/masculino, público/privado e biológico/social.
Tópicos a serem abordados:
● Feminismo Queer: Entre tema e experiência;
● Lia D. Castro; Élle de Bernardini; Coletivo Serigrafistas Queer; Ofélia de Ana Mazzei e Regina Parra.
Aula 8 – Memória, Testemunho e Transmissão: Nesta aula, trabalharemos mulheres artistas que produziram através da escrita, performance, arte visual e outros meios, potentes testemunhos que nos transmitem algo de um saber fazer com a vida. Discutiremos as obras selecionadas em articulação com conceitos da Psicanálise e com outros temas abordados pelo feminismo.
Tópicos a serem abordados:
● Estudo da obra de Grada Kilomba a partir de seu livro Memórias de Plantação, examinando como as questões de raça, gênero e colonialidade e sua prática artística;
● “Em Busca dos Jardins de Nossas Mães” de Alice Walker;
● Artistas: Cecília Vicuña.
Sobre as professoras:
O Coletivo Psicanálise, Arte e Feminismo (P_A_F) é um espaço de experimentação crítica e diálogo que explora as interseções entre psicanálise, arte e teoria feminista, conduzido por três psicanalistas e pesquisadoras: Flavia Corpas, Francielle Alves e Isabela Pinheiro. O coletivo se estrutura como um espaço de produção de pesquisas e trabalhos conjuntos, a partir do tensionamento de narrativas e lógicas convencionais destes três saberes e suas intersecções, questionando as estruturas que as sustentam e propondo novas questões e perspectivas.
Flavia Corpas é psicanalista, atuando em consultório particular, e curadora independente de artes visuais. Possui pós-doutorado em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora em Psicologia Clínica pela PUC/RJ, foi docente do Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da UFRJ. É co-fundadora do Psicanálise, Arte e Feminismo (P_A_F). Organizadora do livro “Arthur Bispo do Rosário: arte além da loucura”, do crítico de artes Frederico Morais, e curadora das exposições “Walter Firmo: um olhar sobre Bispo de Rosário”, “Quase Aqui” de Daniel Senise, “Reflexivos”, de Iran do Espírito Santo, e “Pilotis” e “Tudo é corpo” de Katia Wille. Dirigiu os documentários “Cartografias da Criação”, “Arte, Cultura e Acessibilidade” e “Walter Firmo: um olhar sobre Bispo de Rosário”. É coordenadora editorial do Catálogo Raisonné de Bispo do Rosário. Co-fundadora do projeto “Avesso do Vestir”, plataforma de arte e tecnologia que propõe um novo modelo de produção e circulação de arte a partir da ressignificação de resíduos da indústria têxtil.
Francielle Alves é psicanalista e atua em consultório particular, online e presencial, na cidade de Maceió. Pesquisadora, ensaísta e escritora, colaborou com projetos como Mandala Lunar®. Feminista, compõe o Movimento de Mulheres Camponesas. Criadora da IACI®: trabalho de pesquisa e produção independente tecido entre arte, feminino e mulheres. Co-fundadora do P_A_F: Grupo de Trabalho e Pesquisa em Psicanálise, Arte e Feminismo. Membra do GEPEF: Grupo de Estudos, Pesquisas e Escritas Feministas vinculado ao CNPq (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/0576724885643159). Psicóloga (CRP 15-6693) pela Universidade Federal de Alagoas e Cientista Aeronáutica pela UNESA-PROUNI.
Isabela Pinheiro é psicanalista e atua em consultório particular. É pesquisadora, curadora de artes e docente. Possui mestrado em História da Arte e Cultura Visual pela Lindenwood University, nos Estados Unidos, e graduação em Psicologia pela PUC/SP. É Professora Adjunta no Departamento de História da Arte e Cultura Visual da Lindenwood University. É co-fundadora do Psicanálise, Arte e Feminismo (P_A_F) e associada da ALAF (Associação Latino-Americana de Futuros). Trabalhou como curadora no Historical Hawken House Museum, nos Estados Unidos, colaborando na reformulação da exposição permanente do museu, intitulada “Reconstruction and Industrialization: The Gilded Age in Saint Louis”, e foi curadora da exposição “Historic Hawken House: A Review of the Past, A Look Into the Future”, dedicada aos 50 anos da instituição. Suas investigações trabalham as relações entre psicanálise e arte a partir da sua prática clínica e as intersecções com a estética, a teoria crítica, o gênero e o feminismo.
