Caiam fora, luzes de Natal. Instalações de luzes de larga escala que misturam arte contemporânea e tecnologia estão decolando como tendência, iluminando as noites de Nova Orleans a Baltimore, de Sydney a Londres.
Muitos desses festivais incluem telas interativas que transformam espectadores em participantes, que podem mudar as cores e padrões –movimentando-os ou em jogos.
Os eventos são também ímãs turísticos, que atraem igualmente locais e visitantes de fora para regiões à beira-mar, distritos históricos e outros bairros em noites frias de inverno e outros períodos nos quais o turismo está em baixa.
Londres contabilizou mais de um milhão de visitantes em seu primeiro festival de luzes, que durou quatro noites em janeiro. O Lumiere London incluiu gigantescos elefantes projetados pisoteando o ar, uma pintura digital na abadia de Westminster e formas humanas esculpidas e iluminadas voando sobre os prédios.
A LUNA Fête de Nova Orleans atraiu 30 mil visitantes em 2015, em seu segundo ano. O evento teve a obra “The Pool”, do artista Jen Lewin, na qual uma piscina de círculos rodopiantes de luzes e cores se alteravam conforme os espectadores interagiam com eles.
“The Pool” também fará parte do primeiro festival de luzes de Baltimore, o Light City Baltimore, que será realizado ao redor da Inner Harbor, de 28 de março a 3 de abril.
Outras exibições no Light City Baltimore vão incluir retratos digitais projetados por um artista com luzes, padrões e cores nos frequentadores; “Lumin”, folhas de acrílico em que os visitantes poderão desenhar para criar um mural colaborativo e brilhante; e uma escultura de flor chamada de “Laser Lotus”, que muda com base em “touchpads” interativos.
Por que esse boom repentino nos festivais de luzes? Por um lado, segundo Nick Stillman, diretor do Conselho Artístico de Nova Orleans, que organizou a LUNA Fête, porque “a tecnologia está se tornando mais acessível, amigável e barata”.
Artistas contemporâneos também estão mais e mais usando plataformas multimídia e espaços públicos para levar sua arte a audiências maiores, colaborando com museus, governos e outras entidades “para produzir peças em uma escala maior e mais impactante” do que teria em um estúdio, uma galeria e mesmo em praça pública, segundo Stillman.
A arte pública, ele acrescenta, não é mais apenas “uma escultura jogada em uma praça e deixada lá por alguns anos até ser restaurada. Podemos ser mais atraentes do que isso.”
Alguns desses festivais incluem performances, conferências e outros componentes culturais. Na Austrália, o Vivid Sydney atraiu 1,7 milhão de pessoas no ano passado com 70 bandas e 500 palestrantes, além das 80 instalações de luzes.
O evento também contou com projeções em prédios famosos, como a Ópera de Sydney. A oitava edição do Vivid, de 27 de maio a 18 de junho deste ano, terá esculturas de animais gigantescas e iluminadas em uma tela no zoológico Taronga.
No Canadá, o Montréal en Lumière, festival de artes no inverno realizado até o dia 5 de março, tem na programação instalações na cidade velha, na praça dos Festivais e em outros pontos. Na Alemanha, o festival de luzes de Berlim usa projeções e mapeamentos em 3D para fazer de construções como o portão de Brandenburgo palcos de “light art”.
Jersualém levou 250 mil visitantes para seu festival de luzes no passado, que vai voltar em 2016 (de 25 de maio a 2 de junho) com exibições em 3D em prédios na cidade velha.
Outros shows de luzes se aproximam mais de filmes do que de algo conceitual, usando projeções de vídeo em larga escala para contar histórias. Chichen Itza, antigo complexo maia no México, iniciou em 2015 um show de luzes chamado de “Noites de Kukulkan”, batizado segundo a pirâmide de mesmo nome. Sempre à noite, o show é projetado diariamente na fachada de Kukulkan, e conta a história do povo maia.
A maioria dos festivais de luzes é mais sofisticada que os tradicionais luzes de Natal –renas, bonecos de neve e árvores exibidas em parques a cada dezembro. Mas mesmo alguns dos eventos mais “artsy” são realizados no período natalino.
O Illuminate SF Festival vai ter sua quarta temporada neste ano, com “light art” exibida por San Francisco do Dia de Ação de Graças ao Réveillon.
Os organizadores do festival de Nova Orleans citam a Fête des Lumières de Lyon, na França, como sua inspiração. O tradicional evento em geral atrai milhões de espectadores, mas no ano passado foi cancelado depois dos ataques terroristas em Paris.
No lugar, os organizadores de Lyon usaram luzes para criar um tributo simples, mas poderoso, às vítimas. Eles pediram aos moradores para colocar velas em suas janelas e exibiram só um trabalho de larga escala, chamado “Regards” (olhares). Ele mostrava closes dos olhos de figuras de obras-primas da pintura junto com uma lista dos nomes das vítimas dos ataques