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Antiga casa de veraneio de Agatha Christie em Devon, Greenway atrai fãs da escritora

Se alguém batesse à porta da imponente casa de Greenway e perguntasse por “dona” Agatha Christie, algum empregado responderia, very politely, que ali só se encontrava a Sra. Mallowan. Assim era conhecida em sua casa de veraneio a escritora mais famosa do mundo. Estrategicamente isolada entre colinas, bosques e às margens do Rio Dart, a propriedade hoje é um museu aberto ao público e administrado pelo National Trust, órgão de preservação do patrimônio histórico e cultural do Reino Unido.

De Torquay, é possível ir até lá a bordo do ônibus vintage modelo Barnaby, da década de 1940. O veículo verde sai de Torquay, Paington e Brixham. Ferries também saem dessas cidades e de Dartmouth, do outro lado do rio. Mas a forma mais charmosa de chegar é do histórico trem a vapor que sai da estação de Paington e vai até Greenway Halt. De lá, uma caminhada de meia hora pelo bosque leva o visitante ao belo casarão branco de estilo georgiano.

Se o sobrenome artístico foi herança do primeiro marido, o nome pelo qual era chamada em Greenway vinha do segundo companheiro, o arqueólogo Max Mallowan. O casal comprou a propriedade (que já aparecia nos mapas da região desde o século XVI) em 1938, mas demorou a transformá-la num pacato lar para a família.

BASE ALIADA NA II GUERRA

Após um período de obras e adaptações, Greenway foi requisitada pelas forças aliadas para abrigar pelotões que participariam do Dia D, dada a proximidade do sul de Devon à Normandia. Parte da operação foi traçada na biblioteca, onde os oficiais se reuniam. O teto até hoje exibe afrescos com passagens marcantes da Segunda Guerra, pintadas pelo tenente americano Marshall Lee.

Fãs da escritora podem gastar um bom tempo no cômodo, que exibe, em prateleiras, livros de Agatha Christie em muitos dos mais de cem idiomas para quais foram traduzidos. Uma coleção menor, porém mais significativa, está no segundo andar, na Fax Room: uma estante guarda a primeira edição de cada um dos mais de 80 livros e peças publicadas pela autora. E há também uma de suas máquinas de escrever. Terá sido ela a mesma que foi usada para escrever “A extravagância do morto” ou “Os cinco porquinhos”, onde a casa aparece sob os nomes Nasse House e Alderbury, respectivamente?

A história de Agatha e sua família se espalha pelos demais cômodos da casa. No hall de entrada, o retrato de George Washington denuncia a origem americana de seu pai, Frederick Miller. No Drawing Room, sobre um piano Steinway, um punhado de partituras revela o lado musical da escritora. Entre elas, estão a peça “One hour with thee”, composta pela própria Agatha. O desenho da capa é um autorretrato.

Como nos livros que escreveu, a casa de Agatha Christie é cheia de detalhes saborosos que são fundamentais para a compreensão geral. Uma naja em cobre, atrás da porta da sala de jantar, indica que ali vivia uma especialista em venenos. E um cachecol com o emblema de Harry Potter, cuidadosamente “esquecido” por um trineto da “Dama do Crime” sobre uma cadeira, comprova que, em casa de ferreiro, mesmo em Greenway, sempre há um espeto de pau.

CENÁRIOS NOS ARREDORES

Algumas das tramas mais conhecidas de Agatha Christie se passam em paisagens bem distantes de sua Torquay natal, como “Assassinato no Expresso do Oriente”, “Morte no Nilo” e “Aventura em Bagdá”, graças ao seu gosto por viagens para lugares considerados exóticos. Mas muitas ideias e cenários foram tirados de lugares bem perto de casa, no litoral de Devon. A seguir, alguns exemplos:

‘Assassinato no campo de golfe’: Para escrever a história do assassinato do milionário P.T. Renauld, publicada em 1923, Agatha usou seu conhecimento de golfista adquirido nos campos de Torquay e Churston, vilarejo na vizinha Brixham.

Os crimes ABC’: Churston, aliás, aparece nesta famosa novela da escritora. O terceiro crime da trama acontece na praia de Elberry Cove. Para investigar o caso, Poirot e o capitão Hastings desembarcam na estação ferroviária do vilarejo.

‘O mistério da regata e outras histórias’: O conto principal desta compilação de 1939 descreve uma regata e uma feira em Dartmouth. Na história, o Royal George Hotel parece inspirado no Royal Castle Hotel, um dos prédios mais famosos do centro histórico da cidade.

‘Hora zero’: Um misterioso crime acontece no alto de um penhasco no litoral sul de Devon. Na história de 1944, a cidade de Kingsbridge aparece rebatizada de Saltington, e Salcombe, cujo belo porto está na adaptação para TV de 2007, virou Saltcreek.

‘E não sobrou nenhum’: A ilha para a qual dez pessoas são convidadas para um misterioso encontro se chama, no livro de 1939, Soldier Island e foi inspirada em Burgh Island, em Bigbury Bay, perto de Plymouth.

‘Morte na praia’: Burgh Island também inspirou a fictícia Smuggler’s Island, cenário deste livro, de 1941. Na história, Hercule Poirot interrompe suas férias na ilha para solucionar mais um caso.

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