É muito difícil que um viajante volte frustrado desse tradicional destino turístico do oeste da Argentina. Localizada no setor norte da cobiçada Patagônia, às margens do lago Nahuel Huapi, Bariloche já provou que está preparada para receber visitantes durante todo o ano, sobretudo os brasileiros que, na temporada de inverno, são mais de 50 mil. Não é a toa que o destino é conhecido como ‘Brasiloche’.
No inverno, a paisagem se pinta de branco, os cerros locais se enchem de neve e as baixas temperaturas, que chegam a atingir alguns pontos abaixo de zero, são uma agradável desculpa para a prática de esportes radicais ou apenas para um encontro entre amigos em alguma cafeteria do simpático Centro Cívico.
No entanto, a face invernal é apenas uma das versões possíveis dessa cidade multifacetada que, há menos de 100 anos, era uma região isolada e pouco conhecida, entre as cordilheiras dos Andes.
Opções não faltam para os visitantes que desembarcam na região durante os meses mais quentes da primavera e do verão. Trekkings por bosques de “arrayanes”, curiosas árvores que chegam a ter mais de 15 metros de altura e troncos grossos revestidos com uma casca fria de cor acanelada e manchas brancas; tranqüilos raftings pelas águas esverdeadas do rio Manso ou até kitesurfing no lago Nahuel Huapi, cujas águas são utilizadas também para congelantes banhos em praias improvisadas sobre terreno formado por pedras.
San Carlos de Bariloche, nome oficial dessa cidade a mais de 1600 km de Buenos Aires, recebeu seus primeiros residentes no final do século 19, um grupo formado por imigrantes alemães e austríacos dispostos a habitar aquele território então distante e com trechos intransitáveis. O decreto de sua fundação só viria em 1902, assinado pelo presidente Julio A. Roca.
Para repor as energias, o visitante tem à disposição uma gastronomia local que, entre pratos argentinos e outros trazidos da Europa, recebe os comensais com carnes de diferentes cortes e procedências, como as de cervo e coelho; pratos preparados com ingredientes trazidos de águas patagônicas, como trutas e salmões; foundes com sotaque suíço; e uma infinidade de tortas e chocolates. Tudo isso regado a vinhos respeitáveis com preços acessíveis.
O local recebe seus visitantes com paisagens que assumem outros tons e conta com atividades ao ar livre como rafting no Rio Manso, caminhadas no Parque Nahuel Huapi e até kitesurfing no lago de mesmo nome. Curiosidade: acredita-se que foi nos bosques de arrayanes – um tipo de planta local – em torno da cidade que Walt Disney se inspirou para criar o personagem Bambi. Se tudo isso não bastasse, a hotelaria local é bem estruturada, seus restaurantes servem desde o indefectível fondue de queijo a deliciosas trutas pescadas na região. E, do alto do Cerro Campanario, você poderá experimentar um dos melhores chocolates quentes de sua vida.
Definitivamente, Bariloche é para todos e em qualquer época do ano.
QUANDO IR
Verão – ótimo para fazer belos passeios pelo Parque Nacional Nahuel Huapi e curtir a paisagem da travessia dos Lagos Andinos. Os preços de hotéis e restaurantes são atraentes e as temperaturas são amenas, mas podem chegar a quase 30 graus em certos dias. É também uma boa época para quem curte esportes náuticos como windsurfe, canoagem e kitesurfe, pesca e passeios a cavalo.
Outono – belas folhagens em tons vermelhos e amarelos, boa chance de ver um céu muito azul e os passeios continuam bárbaros. Começa a esfriar bem conforme a noite chega.
Junho – é o início da temporada, há boa chance de pegar uma nevasca e o preço dos pacotes são interessantes.
Julho – férias escolares no Brasil e na Argentina, crianças e adolescentes por todos os lados e preços nas alturas. Praticamente é o único mês disponível para quem viaja em família
Agosto – As montanhas estão com boa cobertura de neve e o perfil do turista muda para casais em viagem romântica e esquiadores experientes. Vários estabelecimentos já fazem promoções e as agências oferecem preços convidativos, inclusive para hotéis de luxo.
Setembro – Por esta época já não há mais voos diretos a partir do Brasil (todos agora têm que fazer conexão via Buenos Aires) e a neve começa a rarear nas pistas mais baixas. A qualidade da cobertura também não é das melhores, com pouca neve seca. No entanto, os preços despencam.
Primavera – A neve derretida, os campos queimados pelo congelamento e as árvores sem folhagem não deixam a paisagem tão bela, mas lá e cá flores dão o ar da graça. Muitos estabelecimentos já estão fechados.
Opções não faltam para os visitantes que desembarcam na região
O QUE FAZER
O complexo de pistas de Cerro Catedral possui 120 km de percuros, espalhados por 1200 hectares e um desnível vertical de mais de mil metros. Há boa oferta para todo tipo de esquiador, sendo mais da metade para iniciantes e 25 para para avançados e experts. São 38 meios de elevação que podem transportar até 35 mil esquiadores por hora, que podem se alimentar em 19 quiosques. O serviço é completo: escola de esqui, aluguel de equipamentos, terrain park — pista de obstáculos, kids club e atividades alternativas como esqui de fundo, caminhada na neve, snowmobile e tobogãs. Os teleféricos funcionam das 9 às 17 horas durante a temporada
Mas nem só de inverno vive Bariloche. Claro que a temporada de esqui – e todo o charme que a envolve, com lareiras, fondues e chocolates quentes – é a alta estação nesta parte da Patagônia argentina, mas há muito mais o que aproveitar. A travessia dos lagos andinos, desde o Chile, é um passeio encantador em qualquer época do ano, assim como explorar o lago Nahuel Huapi com catamarãs, caiaques e barcos.
COMO CHEGAR
Na alta temporada de esqui, algumas agências organizam voos charters diretos entre a cidade e algumas capitais brasileiras, notadamente São Paulo. Se optar por voos regulares, TAM, LAN e Aerolineas Argentinas são as alternativas. A maioria vai requerer uma escala em Buenos Aires, no Aeroparque Jorge Newberry. Neste caso a duração total da viagem é a partir de 6 horas. Note que como alguns voos fazem escala no Aeroporto de Ezeiza, demandando transfer rodoviário, as viagens passam a durar algumas horas a mais e muitos turistas optam por passar a noite (ou alguns dias na capital). De Buenos Aires são apenas duas horas de voo até o Aeropuerto Internacional Teniente Luis Candelaria (www.aa2000.com.ar), que fica a 15 quilômetros do Centro. Táxis, vans e aluguel de automóvel estão disponíveis para o traslado até o Centro da cidade.
De carro, a Ruta 3 leva de Buenos Aires até Bahía Blanca. De lá, pega-se a Ruta 22 até Neuquén e, em seguida, a Ruta 237, que leva a Bariloche. São cerca de 1.569 quilômetros de distância.
COMO CIRCULAR
Se ficar hospedado próximo ao Centro Cívico, você terá sempre próximos serviços básicos como agências de viagem, operadoras, farmácia, supermercado, bancos, lojas e restaurantes. Tudo a uma distância confortável para fazer tudo a pé. Para embarcar nos passeios como o Circuito Chico e a a Vila de Angostura, o transporte normalmente é oferecido pela operadora.
Do Centro até o Cerro Catedral são 19 km de distância, com micro-ônibus saindo a cada 30 minutos. Táxis, remis e vans particulares também fazem o transporte. Se for de carro, o estacionamento é gratuito.
Note que alguns hotéis, principalmente os maiores, oferecem o transporte até as pistas sem custo.
O QUE COMER
Sim, aqui você não escapa da parrillada, da empanada, do vinho malbec e dos doces de leite. Todavia, se quiser algo mais com a cara de Bariloche — e da Patagônia, há pequenas casas que servem trutas assadas, carne de cordeiro, pratos típicos alemães (um importante grupo de colonizadores da região) e o curanto, carnes especiais assadas dentro da terra, na Colonia Suiza.